quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Avanço da neurociência aponta para futuro de "Minority Report"

Os neurocientistas estão realizando progresso tão rápido na solução dos segredos do cérebro que alguns deles vêm instando seus colegas a debater a ética de seu trabalho, antes que este possa vir a ser explorado indevidamente por governos, advogados ou anunciantes.
A notícia de que leitoras de ondas cerebrais agora são capazes de ler as intenções de uma pessoa antes que elas sejam expressas ou concretizadas ofereceu um novo estímulo à neuroética, um ramo incipiente cuja proposta seria ajudar os pesquisadores a distinguir entre os bons e os maus usos de seu trabalho.
As mesmas descobertas que poderiam ser usadas para ajudar uma pessoa paralisada a movimentar uma cadeira de rodas ou escrever em um computador com comandos cerebrais também teriam aplicação na detecção de possíveis intenções criminosas, crenças religiosas ou outros pensamentos ocultos, dizem os interessados em neuroética.
"O potencial de abuso dessa tecnologia é imenso", disse Judy Illes, diretora do programa de neuroética da Stanford University. "Trata-se de uma situação verdadeiramente urgente."
O novo interesse pelo assunto surgiu com um relatório de pesquisa publicado na semana passada, segundo o qual os neurocientistas agora podem não só localizar a área do cérebro na qual certos pensamentos ocorrem mas investigá-la e ler se determinados pensamentos ocorrem ali.
O autor do relatório, John Dylan-Haynes, do Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences, em Leipzig, Alemanha, comparou o avanço com alguém que desenvolva a capacidade de ler livros, quando antes podia apenas determinar onde estavam. "Trata-se de um imenso passo à frente", afirmou.
Haynes se apressou a acrescentar que a neurociência ainda está longe de poder desenvolver um aparelho leitor de ondas cerebrais com a capacidade de ler pensamentos aleatórios com facilidade.
"Mas o que podemos fazer é ler algumas coisas simples e bastante úteis para aplicações práticas, tais como intenções, atitudes ou estados emocionais simples", disse ele. "O que estamos descobrindo é que agora somos capazes de ler o cérebro em situações de sim-ou-não."
Haynes e sua equipe de pesquisa usaram uma técnica de análise do cérebro chamada de ressonância magnética funcional por imagens para detectar a decisão de um voluntário de adicionar ou subtrair dois números que piscavam em uma tela. Eles acertaram em 70 por cento das vezes.
Barbara Sahakian, uma neuropsicologista clínica da Universidade de Cambridge na Inglaterra, vê um possível uso indevido da técnica de maneira semelhante a adotada na trama do filme de 2002 "Minority Report", de Steven Spielberg, onde policiais prendem pessoas antes de cometerem crimes, com base em previsões de paranormais.
"Temos discutido como nós queremos usar essa tecnologia e quem poderia ter direito a usá-la", disse a pesquisadora.
Haynes estima que sua pesquisa sobre intenções não declaradas das pessoas poderia gerar aplicações simples nos próximos cinco a 10 anos, como leitura da atitude de uma pessoa em uma empresa para entrevista de emprego ou teste das preferências dos consumidores, no que poderia ser considerado como "neuromarketing".

Fonte: Uol Tecnologia

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